segunda-feira, março 05, 2007

Apoquentação

Ando muito apoquentada. Eu sei que não devia, por causa dos meus nervos e assim... o médico até me disse que era para eu ter cuidado que me podia dar uma coisinha má... olha... como deu ao Alfredo da padaria... coitadinho... num minuto estava a gritar com o mais novo dele, o Paulo Jorge, e noutro estava esticadinho no chão, no meio das cestas das carcaças... um prejuízo já se vê...pois que ninguém ia comprar aquele pão a saber assim a morto. E o Paulo Jorge, coitadinho, tanta bofetada levou o miúdo naquela cara. Ainda parece que ouço a viúva do Alfredo, a Eulália, a gritar ao miúdo: mataste o teu pai! mataste o teu pai! mataste o teu pai! Eu tenho cá para mim que ela não devia ter dito aquilo ao pequeno, por mais que ele tenha enervado o pai ao ponto de o matar do coração... pronto, uma pessoa sabe que a criança foi a culpada, mas também não era preciso tanto alarido... apre! Olha... até foi isso mesmo que a Amélia do 11 disse à Eulália enquanto os bombeiros lhe arrancavam o Paulo Jorge das mãos... Apre! E tinha toda a razão. Nunca mais lhe passou o inchaço da cara, coitado do garoto... e diz que ficou com traumatismo por causa daquilo que a mãe lhe disse... coitadinho... nunca mais deu para a escola...
Bom... voltando à minha apoquentação... eu para ser sincera e franca ando assim uma bocadinho entristecida com isto de me ter aposentado... não é que que me queira ver outra vez naquele serviço com aquela chefe do demo que era a engenheira Isabel mais as vermelhices dela... não senhor, Deus me livre... mas faz-me assim falta andar pelos corredores, ir de secção em secção falar com as colegas, ir almoçar à cantina, ver os catálogos de roupa que a prima da Maria de Lourdes lhe trazia da França... pronto... sinto falta! Até de escrever ofícios à maquina eu tenho saudade...
Agora não sei... sinto-me assim esvaziada... faço a lida... ouço os parodiantes à hora do almoço... depois vou um bocadinho dar à língua até ao Zé da leitaria... e depois, olha, venho para casa, vejo a novela depois de jantar o meu peixinho cozido e escrevo um bocadinho antes de passar água pelas partes antes de me deitar... que eu sempre gostei de escrever, assim histórias pequeninas e poesias e assim... demoro é um bocadinho de tempo porque escrevo tudo à mão... não fosse a minha tendinite ainda me metia a comprar uma máquina de escrever... daquelas iguais à da chefe do demo... a prestações não me havia de sair cara... isto um bocadinho por mês e eu nem dava por isso... pois olha Laurinha que é isso mesmo que tu vais fazer. Até já se me está a subir umas sensações pela espinha acima. Em calhando ainda mando uma poesia minha prá "crónica feminina". Vou já ter com a Amélia do 11 e contar-lhe tudo. Tá, tá.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Laurinha, que saudades!!! Já temia uma desgraça, nunca mais disseste nada!!! Eu e a Palmira já tinhamos comentado, "Será que lhe aconteceu coisa", porque nem tens ido à missa Laurinha...mas Graças a Deus estás bem. Fico muito feliz por comprares a máquina, mas olha, tenho que dizer-te....cuidado com o que conta à Amélia soube na missa que ela não é de muita confiança. Cuidado. olha tenho de ir, tenho a cabeça do peixe ao lume. Um grande beijinho

Anónimo disse...

Força Laurinha!
Assim mesmo é que é, gosto de a ver com genica para fazer coisas, escrever e assim é bom, sempre nos distrai, porque nesta vida se não forem assim essas distrações é só tristezas e essas não pagam dividas.
Depois quero que me leia essas coisas que escreve, que os meus olhos já me pregam muitas partidas e não estão para esforços!

Um Grande Beijo minha querida,
Menina Brunilde do 86 (da rua da escola)

polegar disse...

ai laurinha, não se apoquente assim. compre a máquina de escrever e invista contra as teclas. vai ver que alivia. sai-se-lhe o peso de cima.
é como o creme nívea e a água de rosas. ele há lá melhor para aliviar os apertos da alma?