segunda-feira, julho 31, 2006

Penas de galinha e tachas

Tenho cá para mim que a Suzete me anda a fazer uns bruxedos ou assim umas coisas do mal. Não sei, é assim uma impressão que eu tenho. não é que eu seja pessoa para acreditar nessas coisas. Sou católica, das que pratica, sim... que eu não sou dessas que se dizem muito santas e que acreditam no nosso Senhor e até vão à missa e tudo, para serem vistas, e depois nas costas é a pouca vergonha que a gente sabe. Eu não! Vou à missa e quando peço não é só para mim... não senhor, é para os meus e para os que, coitadinhos, não têm nada. Por isso é que ainda não desisti da Suzete nem da Dolores que é assim também para o "leva e trás" e envenena um bocadinho. Mas agora isto de me aparecerem penas de galinha à minha porta e tachas debaixo da minha secretária é que já é demais. Tenho até andado com dores de cabeça e quebras na tensão. Ainda se me desmaio por aí e pode ser perigoso. E porquê Santo Deus... eu não tenho nada que ela também não tenha. Só porque... pronto, eu não gosto de me gabar e assim, mas pronto sou realista, ai pois sou... e a realidade é que eu sou assim um bocadinho mais bem apessoada que a Suzete... tenho assim um bocadinho mais de peito e pronto não sou assim desleixada no meu parecer. Arrelia-me pensar que eu me dou com pessoas, que até sou amiga delas e depois é isto. Estive mesmo vai não vai para descer até ao rés do chão, que é onde está o pbx, e lhe pregar um tabefe. Quem se me controlou os nervos foi a minha Justa... essa sim é amiga de verdade. Mas pronto agora é bom dia boa tarde e mais nada. Ela nem me pergunta nada... ela sabe... e ninguém me tira da ideia que a Dolores também sabe disto das penas e das tachas. Bom agora vou-me arranjar... eu mais a Justa mais a Amélia do 11 vamos à revista. Eu gosto assim duma boa revista de teatro... alegra-se-me assim a alma. Tá, tá.

sexta-feira, julho 28, 2006

Primeiro amor

Hoje é sábado e é dia de lida. Começo sempre por limpar o pó à sala. Não é por razão nenhuma assim em particular, é só porque tem mais bibelots, mais molduras, jarrinhas e assim. E eu já sei se deixo a sala por último depois sobe-se-me um cansaço pelas pernas acima e já não faço nada. E isto tudo para dizer que encontrei, por detrás da senhorinha que eu tenho ao lado da janela que dá para o quintal da Almerinda do rés do chão, um envelope com fotografias antigas. Pronto, sentei-me no maple a ver as fotografias e já não fiz mais nada. Não foi por desleixo foi, por assim dizer, uma espécie de saudade. As fotografias antigas deixam-me sempre assim com muita emoção cá por dentro... Uma pessoa vê as pessoas e recorda, não é? Tanta gente que já se me foi... benza-me Deus nosso Senhor. Fotografias da minha tia Quinita num passeio a Fátima... tadinha, vê-se nitidamente os joelhinhos dela todos esfolados por causa de uma promessa que ela fez por causa de já não me lembra o quê. Mas assim a que mais me deixou emocionada foi uma comigo e com o meu primeiro amor. Garotices, já se sabe... não era assim nada de muito sério, mas podia ter sido não fosse ele me ter largado lá por uma madame francesa que dava aulas de música no conservatório e depois mo levou para a terra dela. Mesmo assim recordo-o com muito amor e carinho. Isto já se sabe, o primeiro amor nunca se esquece, não é assim? Chamava-se Porfírio Henrique. Era marçano na mercearia do pai do Hipólito o coxo, o sr. Aníbal, que era surdo. Era assim alto para a idade. Eu tinha acabado de chegar a Lisboa quando o conheci, havia de ter o quê Laurinha? Lembra-te lá... uns treze aninhos mal acabadinhos de fazer. Isso... treze anos. Ele era mais velho um ou dois, mais experiente. Era um malandro para as coisas dos beijos e assim. Eu gostava. Sempre séria, que isto uma pessoa pode ser dada mas tem que saber impor os limites. Foi linda a nossa história. O Porfírio Henrique... ai... Agora tenho que me ir. A Amélia do 11 vem cá a casa ver o festival da canção e eu ainda tenho de ir fazer um bolinho de laranja para o serão. Tá,tá.

quinta-feira, julho 20, 2006

A Máquina da Engenheira Isabel

Ando muito moída, isso é que é. Só eu e Deus nosso Senhor é que sabemos como eu ando. Tenho uma dor que se me começa nas costas e que se me vai subindo até aos ombros e se me desce pelos braços até à ponta dos dedos, salvo seja. E isto é tudo por causa do serviço. É que eu escrevo muito à máquina... relatórios, cartas e assim... e a máquina é uma daquelas antigas, nada daquelas muito modernas que se ligam à corrente e assim... como a que a engenheira Isabel tem na mesa dela. Mas isto já se sabe não é para todos... e não é que eu inveje os outros, não! Faz-me é umas raivas cá por dentro de ver assim estas injustiças. Só porque é engenheira! Ela nunca cá está! Uma máquina tão linda, assim brilhosa, parece feita do material dos aviões, assim moderna... Santo Deus... e para quê pergunto eu... sim para quê? Para andar a ganhar pó, enquanto a senhora engenheira anda por aí a passear-se pelos corredores. Eu nunca vi... e se a gente lhe pede para usar a máquina dela, não nos deixa. É logo um revirar de olhos e umas trombas. Diz que a gente não é instruídas. Agora!!! Falta de confiança na gente é que é! E eu aqui toda moída da coluna por fazer força nos dedos de tanto escrever à máquina. É que as teclas são muito rijas... e já se vê, se a gente é meiga e não faz força não aparece nada no papel e depois a senhora dona engenheira reclama que não se vê nada. A estúpida! Tomara já que a transfiram para outra secção... já tive chefes torcidos mas como esta... Santo Deus... Ainda por cima, tenho cá para mim que ela é ... até me custa a escrever isto... eu e a Justa... a gente acha que ela é vermelha. Parece-nos! Bom agora tenho de ir passar pomada nos braços para ver se melhoro. Vou-me ali esticar um bocadinho. Tá, Tá