quarta-feira, dezembro 17, 2008

O Céu furado

Lembro-me bem do dia que o homem chegou à Lua. Quer-se dizer... lembrar bem não me lembra, mas sei dizer que eu, mais a minha Amélia e mais a minha Justa, nos juntámos na colectividade lá do bairro a assistir pela televisão à aterragem, que em sendo na Lua há-de ser aluagem ou assim. Na altura aquilo fez-me um bocadinho de impressão... e ainda hoje tenho cá p'ra mim que aquilo, em calhando, não foi na Lua que eles se me aluaram... não sei, é assim uma espécie de pressentimento e eu, modéstia à parte, sou muito pressentida. Desde pequena.  Até a minha madrinha Quinita me dizia:  que pressentida que tu me havias de ter saído pequena. Dizia-me ela, tadinha, Deus a tenha lá com Ele muitos anos sem mim.
A mais nova da Ausenda da drogaria estava-me toda derretida com os astronautas. A mim fazia-me confusão não lhes ver a cara, tudo com muita chuva, embaciado e em esticado... é por isso que eu não me convenço. Tenho p'ra mim que aquilo era como nos filmes das léguas submarinas, era tudo em faz de conta, só p'ra inglês ver... foi o que eu pensei na altura e ainda hoje penso... e é só uma pessoa pensar um bocadinho, a gente quando olha para o céu ele é-me azul clarinho durante o dia e escuro quando é noite... ora se eles se me saíram de foguetão de dia porque é que uma pessoa via o céu todo às escuras na televisão... sinceramente... e depois, quem é que acredita que o foguetão me atravessava assim o céu daquela maneira... ainda se me ficava tudo furado... a Amélia diz que eu sou parva... tadinha... ela não sabe isto de eu ser pressentida. Bom... olha... cada um acredita no que quer, essa é que é essa.
Agora vou-me deitar que não me aguento das pernas... circulação... tá, tá.